Diário do Alentejo

"Não creio que a atividade [da caça], tão enraizada na nossa forma de viver, possa desaparecer"

03 de março 2023 - 09:00
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Três Perguntas a Mário Tomé, presidente da Câmara Municipal de Mértola 

 

Texto José Serrano

 

De março a outubro vão realizar-se as primeiras Jornadas da Caça em Mértola. Quais os principais objetivos que esta iniciativa pretende cumprir?A dinamização da cinegética, a defesa da identidade do território, o reforço da marca Mértola como capital nacional da caça e a criação de uma relação de proximidade entre o setor e a autarquia. Pretendemos transmitir um sinal claro ao setor, a nível local e nacional, de que pode contar sempre connosco na articulação de medidas que reforcem a atividade, tão atacada nos últimos anos. É também esse um dos objetivos das jornadas – comunicar aos menos informados, e com pouca proximidade com o mundo rural, que esta atividade vai muito além do ato de abater uma peça. Não menos importante, pretendemos proporcionar o convívio e encontro de caçadores/gestores cinegéticos, com a finalidade de partilha dos problemas atuais, na perspetiva de se encontrarem soluções conjuntas.

 

Qual a importância económica/social que a atividade cinegética tem para os territórios rurais do Baixo Alentejo?É fácil identificar esse impacto na restauração, hotelaria, nos pequenos comércios tradicionais, que não têm praticamente época baixa, pois Mértola é compensada, de setembro a fevereiro, com a visita de milhares de caçadores. As pessoas envolvidas conseguem compensar o orçamento familiar com a prestação de serviços ao setor (guias, secretários, batedores, cozinheiros, etc.). Uma referência também ao emprego direto proporcionado: as grandes zonas de caça do concelho têm trabalhadores efetivos. Existe, depois, a componente sociológica, contribuindo a caça, de forma decisiva, para manter e reforçar a identidade de um território.

 

Considera que a caça poderá estar em risco, seja pela pressão exercida pelos seus detratores ou pela perda demográfica do interior?A caça nunca estará em risco pelo simples facto de um conjunto de pessoas mal informadas quererem impor os seus gostos pessoais e formas de viver aos outros. Uma sociedade democrática não pode funcionar assim. A caça é uma atividade ancestral, essencial para a preservação da biodiversidade – a reintrodução do lince só teve sucesso no território com maior atividade cinegética do País, o que comprova a sua importância na conservação de outras espécies. Relativamente à perda demográfica, sendo uma realidade que se faz sentir mais no interior, é também um facto que essa tendência já se sentiu mais – verificamos cada vez mais pessoas a procurarem zonas rurais para trabalharem remotamente. A perda demográfica é para o setor da caça, especificamente, menos preocupante, porque as pessoas são resilientes, apaixonadas pela atividade e pelo mundo rural. Enquanto houver pessoas neste território vão existir caçadores. Não creio que a atividade, tão enraizada na nossa forma de viver, possa desaparecer. Mas o setor tem de ter a capacidade, tal como em outros momentos, de se adaptar aos tempos atuais e, sobretudo, de se unir, em prol da caça e do mundo rural.

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